30.7.10

 

Extra! Extra! Desvendado o caso do matagal*


Por Solange Pereira Pinto
Escritora e facilitadora do Ateliê Ato Com Texto





Foram encontradas ontem, no matagal da Vila Sésamo, as memórias de dois garotos, Garibaldo, 6, e Beto, 12. Perdidas há 34 anos, uma na entrada na pré-escola e a outra na aula de gramática e análise sintática, já estavam em avançado estado de putrefação da alegria, comprometidas com lesões abusivas e repressoras. Testemunhas afirmam que tudo aconteceu em 1976, por causa da rotina escolar e omissão dos pais. 

Na manhã de hoje, policiais do Batalhão de Choque para Sanidade Mental (BCSM) precisaram interditar o local, pois há muito não se via uma memória de seis anos tão saudável, repleta de sonhos e desejos. Pessoas que passavam no local se aglomeravam diante dos cordões de isolamento. “Eu nunca vi nada igual. Tenho um filho da mesma idade que só quer ver TV. Não sei mais o que fazer”, disse dona-mãe-de-Gugu. 

O conteúdo-futuro-projetado até a semana passada (de cada memória encontrada) foi analisado em laboratório e apresenta, segundo a perícia especializada em criatividade, vestígios de tortura, provavelmente causados por estrangulamento da imaginação, desestímulo parental e excesso de aulas expositivas. E, no caso de jovens adultos, a busca robotizada por concursos públicos. “É muito comum em casos de formação pessoal focada no sucesso financeiro e estabilidade profissional, amplamente estimulados pelos pais, que os talentos sejam sacrificados, assim como o prazer, para dar lugar a uma falsa sensação de bem-estar que pode vir bem comprometida, ocasionando doenças como estresse, depressão, tristeza, sentimentos de fracasso, inadequação, afastamento social entre outras”, afirma o doutor Aloysius Snuffleupagus. 

Entrevistado pela reportagem, Garibaldo, 40, que há dez anos toma medicamentos para depressão, faz terapia e alimenta a esperança que a apatia de viver desapareça, se recorda apenas que tinha uma mente privilegiada, adorava encher sua memória de vontades de menino e brincadeiras de viver até que lhe disseram que a partir daquele dia as coisas iriam mudar. “A professora disse que não podia mais levar brinquedo para escola e nem brincar, pois era coisa séria o negócio de aprender as letras e os números. Fiquei com medo do alfabeto invadir minha caixa de carrinhos”, diz pesaroso.


Com Beto não foi muito diferente. Hoje, aos 46 anos, lembra o quanto gostava de escrever antes de lhe forçarem a esquartejar sentenças e repetir conjugações verbais. “Eu era um garoto mais feliz até uns nove anos. Depois a minha vida foi se tornando um inferno, ano após ano, com tanto conteúdo para decorar e pouco espaço para criar, inventar, curtir. Muita regra e pouca liberdade. Para você ter idéia eram nove horários de matemática por semana e apenas um de artes. Acabei me tornando engenheiro para não escrever nunca mais. Embora meu sonho fosse ser escritor ou jornalista”, contou desiludido. 

Para Snuffleupagus, não apenas as crianças e jovens devem ser estimulados no pensamento e na linguagem com criatividade, mas também, e, principalmente, adultos e idosos para que não fiquem estagnados e exercitem o cérebro. 
Segundo as investigações tudo leva a crer que o reencontro com as memórias perdidas só foi possível após várias e insistentes buscas de autoconhecimento e ajuda de profissionais de comunicação criativa e outras terapias alternativas. O caso foi encaminhado para a academia, na qual cientistas sociais e de outras áreas estudarão conjuntamente o crescente fenômeno de petrificação-futura-das-ideias que tem acometido crianças e jovens em todo o planeta, gerando uma sociedade mais dura, fria, ambiciosa e pouco feliz. 

Garibaldo e Beto garantem que não farão o mesmo com seus filhos e que procuram frequentemente novas formas para se livrarem da cristalização de pensamentos, pouca espontaneidade e falta de ação criativa que suas rotinas tomaram. Veja mais sobre o assunto aqui

__________

*Esta é uma notícia real, embora todos os personagens sejam fictícios.


___

Marcadores: , ,


22.7.10

 

"O olho de vidro do meu avô" no III Encontro de Leitores - 22 de julho, 21h


O que? "III Encontro de Leitores Antes Que a Rotina Nos Separe De..." 
Onde?  Café com Letras, 203 sul
Quando? 22 de julho de 2010, às 21h.
Quem? Leitores que cultivam o prazer de ler e debater
Como? Indo ao Café no dia marcado
Por quê? Interagir, papear e trocar impressões deixa a rotina mais legal, antes que a gente se separe dos momentos bons da vida!
Livro? O olho de vidro do meu avô. Autor: Bartolomeu Campos de Queirós. Editora Moderna, 2004, 48 páginas. (Literatura infanto-juvenil)


Sobre o autor:

Nascido em Pará de Minas, Minas Gerais, em 1944, Bartolomeu Campos de Queirós é autor de vários livros para crianças, de peças teatrais e textos sobre arte-educação. Teve o seu primeiro livro, O peixe e o pássaro, publicado em 1974. Depois vieram PedroOnde tem bruxa tem fada, Faca afiada, Ciganos, Flora, Indez, Correspondência, Cavaleiros das Sete Luas, Por parte de pai e tantos outros. Recebeu os mais significativos prêmios no Brasil pelo seu trabalho literário: Selo de Ouro da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil, Prêmio Bienal Internacional de São Paulo, Prêmio Prefeitura de Belo Horizonte, O melhor para Jovem, Prêmio Jabuti da Câmara Brasileira do Livro, Grande Prêmio da APCA –– Associação Paulista dos Críticos de Arte, Prêmio Orígenes Lessa –– Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil, Diploma de Honra do IBBY, Quatrième Octogonal –– França, Rosa Blanca de Cuba, Bienal de Belo Horizonte. 


Sinopse:

É o homem que ainda guarda o olho de vidro do avô, mas é o menino que percorre com o leitor os caminhos de Bom Destino, cidade pequena e plana, cansada de tanta paz, em que o tempo parece escorrer mansamente. O avô reina misterioso: com o olho direito, via o sol, a luz, o futuro, o meio-dia, e, com o olho esquerdo, via a lua, o escuro, o passado, a meia-noite; o neto fascinado embrenha-se no mistério como quem não vê, que é o jeito de menino ver.

O avô usa um olho de vidro. Como isso aconteceu, não se sabe: parece que o olho de vidro não existe se não se fala dele, mas para o menino, curioso e imaginativo, o olho de vidro provocava atração e receio. Aos poucos, o leitor pode recolher aqui e ali fragmentos da história do avô: ele receitava remédios homeopáticos, tinha sete filhos, um outro amor.

Nesse livro, o autor percorre, mais uma vez, os labirintos da memória, principalmente a memória da infância a qual Santo Agostinho, no trecho escolhido como epígrafe, afirma já não existir no presente, mas existir no passado que já não é.

O discurso da memória, que organiza lembranças e esquecimentos, cria também recordações: a memória tem aquela qualidade nebulosa e fugidia. O que é experiência tornada relato? O que é experiência transformada em narrativa? Aquilo de que nos lembramos, necessariamente, corresponde à verdade dos acontecimentos? Quem pode atestar a verdade do que se lembra? O outro? Como se ele próprio também fosse submetido às mesmas contingências?

Bartolomeu recria a infância com a poética das palavras: os sentimentos vividos, os episódios cuidadosamente guardados se extravasam em linguagem permeada de música e de silêncio que rompe as fronteiras do tempo.









Promoção cultural: Solange Pereira Pinto 
HomeAteliê Ato Com Texto (61) 9961.6971
SEPS 905/705 Edifício Mont Blanc -Brasília/DF
 

Parceria: Café com Letras
 (61) 3322.4070 / 3322.5070
SCLS 203 SUL - Bl. C - Lj 19 - Brasília/DF

Marcadores:


15.7.10

 

A correspondência humana


Em análise sobre a correspondência humana, cientistas encontram padrões universais que regulam tanto a troca de cartas escritas como a de e-mails e sugerem que outras ações humanas podem ser modeladas na forma de sistemas complexos.



Prevendo o imprevisível


25/9/2009


Agência FAPESP – As ações humanas são realmente aleatórias e imprevisíveis? Não necessariamente, de acordo com um estudo feito sobre a comunicação por e-mail e cartas escritas. A pesquisa indicou que esses padrões de correspondência humana podem ser modelados na forma de sistemas matemáticos complexos.


Fatores como o ritmo circadiano, a repetição de tarefas e a mudança das necessidades ocorrida ao longo da vida fornecem informações suficientes para que se possa estimar padrões de envios de cartas ou e-mails.


O trabalho, publicado na edição desta sexta-feira (25/9) da revista Science implica que outros aspectos das ações humanas podem ser modelados dessa mesma forma. Um dos autores do estudo é a brasileira Andriana Campanharo, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), que atualmente faz o doutorado na Universidade Northwestern, nos Estados Unidos.


Andriana e colegas analisaram os padrões de correspondência de 16 escritores, políticos, celebridades históricas e cientistas, entre os quais Albert Einsten. O grupo identificou uma “universalidade”, ou seja, um padrão que permeia tanto as cartas escritas como a mais nova forma de comunicação do e-mail.


Segundo eles, um mesmo modelo pode descrever com exatidão os dois padrões de correspondência entre indivíduos, por papel ou eletrônico. Por exemplo, da mesma forma que um autor de um blog pode esperar um aumento em sua correspondência eletrônica depois que seu e-mail for divulgado na internet, Einstein passou a receber muito mais cartas depois que publicou a Teoria da Relatividade, em 1919.


Ou seja, os padrões de comunicação, além da ocorrência aleatória, são também governados pela própria natureza humana, apontam os cientistas. Os modos com que os estilos de vida individuais afetam esses padrões podem ser modelados como um sistema complexo.


A identificação e a modelagem dos padrões de atividade humana têm ramificações importantes para aplicações que vão da previsão da extensão de doenças à otimização da alocação de recursos. Por causa da sua relevância e disponibilidade, a correspondência escrita fornece um modelo poderoso para estudar a atividade humana”, descrevem os autores.


Tanto na correspondência por cartas como na por e-mail, os padrões de correspondência são bem descritos pelo ciclo circadiano, pela repetição de tarefas e pelas mudanças nas necessidades de comunicação”, afirmaram.


O artigo On universality in human correspondence activity , de Andriana Campanharo e outros, pode ser lido por assinantes da Science em http://www.sciencemag.org/

Marcadores:


14.7.10

 






"Se os seus sonhos estiverem nas nuvens,
não se preocupe,pois eles estão no lugar certo.
Agora construa os alicerces."






Shakespeare

Marcadores:


10.7.10

 

Nossas escolas e a repressão à criatividade

Legenda em português (clique em subtitles)


"Se você não estiver preparado para errar, nunca terá uma idéia original"

Marcadores: , ,


7.7.10

 

"Os suicidas" no II Encontro de Leitores - 7 de julho, 21h

O que? "II Encontro de Leitores Antes Que a Rotina Nos Separe De..." 
Onde?  Café com Letras, 203 sul
Quando? 7 de julho de 2010, às 21h.
Quem? Leitores que cultivam o prazer de ler e debater
Como? Indo ao Café no dia marcado
Por quê? Interagir, papear e trocar impressões deixa a rotina mais legal, antes que a gente se separe dos momentos bons da vida!
Livro? Os suicidas, de Antonio Di Benedetto. Tradução: Maria Paula Gurgel Ribeiro. Editora Globo, 2005, 168 páginas. (Literatura estrangeira – Latino americana)



Sobre o autor: 
Antonio Di Benedetto nasceu em Mendoza (Argentina) em 2 de novembro de 1922. Estudou alguns anos de advocacia, mas dedicou-se à imprensa, tendo recebido do governo francês uma bolsa para realizar estudos superiores nessa especialidade. Foi subdiretor do jornal Los Andes e correspondente do joral La Prensa. Em 1953, publicou seu primeiro livro, 'Mundo animal', de contos. Dois anos depois, outro volme de contos, intitulado 'El pentágono'. Mas foi sobretudo com a trilogia de romances 'Zama' (1956), considerado seu principal trabalho, 'El silenciero' (1964) e 'Los suicidas' (1969) que ele veio a se tornar um dos principais prosadores latino-americanos do século XX. Publicou ainda muitos outros livros: 'Cuentos claros a Grot' (1957), 'Declinación y Angel' (1958, contos), 'El cariño de los tontos' (1961, contos), 'Absurdos' (1978, contos), 'Cuentos del exilio' (1983) e 'Sombras, nada más' (1985, romance), dentre outros. Di Benedetto recebeu diversos prêmios e distinções: o governo italiano condecorou-o como cavaleio da Ordem de Mérito em 1969; a Alliance Française concedeu-lhe a medalha de ouro em 1971; foi designado membro fundador do Club de los XIII em 1973; no ano seguinte, recebeu a bolsa Guggenheim. Em 1976, imediatamente após o golpe militar de 24 de março, Di Benedetto foi seqüestrado pelo exército argentino. Permaneceu preso até o dia 4 de setembro de 1977, sem nunca ter sabido a razão de seu encarceramento. Exilou-se nos Estados Unidos, na França e na Espanha, somente retornando à Argentina em 1985. Faleceu vítima de um derrame cerebral em 10 de outubro de 1986, em Buenos Aires.


Sinopse

Publicado pela primeira vez em 1969, o livro conta a história de um jornalista que, ao se aproximar de seu trigésimo terceiro aniversário, começa a recordar o suicídio do pai, que se matou justamente com essa idade. Para piorar a situação, o jornalista é incumbido de fazer uma reportagem justamente sobre suicidas. O livro, então, se desenvolve com a principal personagem caçando histórias de suicidas, visitando necrotérios e locais onde as pessoas tentam se suicidar e, até mesmo, testemunhando uma cena, descrita em ritmo quase vertiginoso, em que um rapaz ameaça saltar de um edifício. Como se não bastasse, o jornalista ainda precisa percorrer a literatura sobre os suicidas. O livro, assim, recolhe um grande número de citações da literatura, filosofia e ciências sociais, formando uma espécie de antologia irônica sobre o suicídio. Paralelamente, o jornalista recorda-se do pai e começa, sempre muito turvamente, a pensar no próprio suicídio. No dia do fatídico aniversário, a personagem principal acaba mergulhando em um torvelinho psicológico cuja conseqüência é completamente inesperada. O final do livro, tão surpreendente quanto sua estrutura formal, talvez deixe o leitor perplexo. Aliás, o engenho do autor se revela principalmente na capacidade de conseguir extrair sensações diferentes, como humor, ironia e perplexidade, de um tema não raro na literatura e muitas vezes trágico. Esquematizado em pequenos fragmentos, que conduzem a literatura a uma velocidade tão vertiginosa quanto a psicologia das personagens, a narrativa de fato reordena diversos tópicos literários; temos aqui um livro argentino que se passa na Europa, cuja trama reclassifica sua possível tragicidade em outros níveis, tudo por meio de uma estrutura inovadora e bastante diferente da que era praticada pelos pares latinos de Di Benedetto.







Promoção cultural: Solange Pereira Pinto 
HomeAteliê Ato Com Texto (61) 9961.6971
SEPS 905/705 Edifício Mont Blanc -Brasília/DF
http://atocomtexto.blogspot.com/
 

Parceria: Café com Letras
 (61) 3322.4070 / 3322.5070
SCLS 203 SUL - Bl. C - Lj 19 - Brasília/DF
http://cafecomletrasdf.blogspot.com/

Marcadores:


This page is powered by Blogger. Isn't yours?